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Piadas com quem derrama lágrimas em cima de um caixão

Cenas de violência são comemoradas enquanto famílias sofrem com a dor provocada pela crueldade humana

11/09/2019 09h30 Atualizada há 5 anos
Por: Redacao
Edilson José, jornalista
Edilson José, jornalista

*Edilson José Alves

A morte brutal de um adolescente desprovido de toda sorte e qualquer assistência pública em Ponta Porã poderia servir ao menos para ato de reflexão sobre o que somos e o que estamos fazendo para melhorar o mundo. Pouco se vê alguém disposto a estender a mão para ajudar seu semelhante. Enquanto a irmã da vítima chorava e fazia relato de cortar o coração em redes sociais, outros usavam as mesmas vias para fazer piadas de mau gosto e até para comemorar. Menos um CPF como dizem. Pena que dessa vez as balas mataram quem não teve nem a oportunidade de um dia ter este tipo de documento.

A pobreza cresce vertiginosamente num páreo cada vez mais duro com a ignorância e a intolerância. Quando se ouve o estampido do tiro de um revólver, logo se busca a foto do morto para ser o primeiro a espalhar. Enquanto a imagem vai se propagando como o fogo na Amazônia, vão surgindo os comentários mais variados possíveis. Alguns expõem abertamente ignorância demonstrando ódio pelo ser humano, tamanha a alegria em escrachar cenas tão cruéis. Pouco se importam se o cadáver tem mãe, pai, filhos ou uma família que vai chorar em cima de um caixão.

Segundo levantamento feito junto ao Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e das Medidas Socioeducativas do Conselho Nacional de Justiça (DMF/CNJ), são mais de 22 mil jovens internados em 461 unidades socioeducativas em funcionamento no Brasil. Uma delas está em Ponta Porã. A internação do adolescente é a medida mais rigorosa prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). As mais brandas são a semiliberdade e a liberdade assistida.

No Mato Grosso do Sul, atualmente com uma população estimada em mais de 2,7 milhões de pessoas, os números de adolescentes internados até são pequenos em relação a algumas outras unidades da federação. Por aqui são 205 em regime de internação, perfazendo 7,5 por cada 100 mil habitantes. Não é pouco, mas se torna um número pequeno quando comparado as estatísticas de um Estado como o Acre, que possui uma população de pouco mais de 869 mil pessoas e tem 545 jovens internados, perfazendo 62,7 para cada 100 mil habitantes.

Ainda sobre os números, conforme dados oficiais do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, do total de adolescentes internados no Estado, apenas 15 são meninas, sendo quatro cumprindo provisoriamente até 45 dias e 11 internadas por sentença. No Amazonas, o que chama a atenção é o número de adolescentes internados sem sentença judicial, são 44,15% em regime provisório.

Diante de um quadro agravante nos surgem algumas perguntas: o que os municípios, estados e a União estão fazendo para mudar a realidade desses adolescentes? Qual o futuro desses meninos e meninas que mal saíram da infância? Algum dia terão direito a educação, saúde e lazer? Ou será que ao nascer já foram condenados a pena capital como ocorreu com o jovem de 16 anos mais recentemente?

No início do ano passado, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), mostrou o impressionante número de 11,8 milhões de brasileiros ainda analfabetos. Outro dado importante é referente a população acima dos 25 anos de idade. Um total de 52,6% dessas pessoas não completou o ensino médio. São índices oficiais, reconhecidos e que nos causam vergonha.

Temos que parar de fazer piadas com a desgraça alheia. Não podemos aceitar a violência como algo normal, natural do ser humano. Precisamos mudar, olhar mais para quem está às nossas voltas e não permitir que governantes tentem reduzir a educação para um nível ainda mais baixo do que está. Para as camadas mais pobres da nossa população a única saída, a única forma de melhorar de vida é tendo acesso a uma educação de qualidade. Sem educação e respeito não vamos chegar a lugar nenhum.

*Jornalista

edilsonreporter@hotmail.com

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